Adoro livros de culinária e já vou perdendo a conta aos que tenho. Uns mais técnicos que outros, alguns com receitas que gostei muito de fazer, que vão sendo repetidas vezes sem conta e já fazem parte do quotidiano. Outros ainda que contêm as imagens mais lindas e inspiradoras de sempre, que nos levam a viajar no espaço até outros continentes e culturas, que nos mostram receitas com ingredientes nunca vistos, que fazem a nossa imaginação fervilhar levando-nos a entrar naqueles cenários, a adivinhar os cheiros e os sabores das receitas. A colecção não pára de aumentar e os livros vão-se espalhando pelas várias divisões da casa, convidando sempre a uma pequena leitura. São uma fonte de inspiração inesgotável e é nos dias de Inverno, quando o frio se faz sentir lá fora, que a disponibilidade para os ver uma e outra vez, aumenta. Sabe tão bem folhear um livro de culinária, numa tarde fria de domingo, enquanto ouvimos o crepitar da lenha da lareira ou nos enroscamos numa manta no sofá, enquanto saboreamos uma fatia de bolo acompanhada de uma chávena de chá. Isso, acrescentado ao prazer de podermos ligar o forno e reproduzir uma das receitas que nos serviu de inspiração, perfumando a casa com o delicioso cheiro de um bolo acabado de fazer, é das melhores coisas da vida. São estes pequenos prazeres, quase insignificantes, que transformam uma tarde fria e trazem calor e felicidade aos nossos corações.
Sem estar à espera, fui surpreendido pela querida Rosa, autora do Be Nice Make a Cake, com um livro de culinária, o "Veneza - Petiscos" da Tessa Kiros. Não é o meu primeiro livro desta autora e apesar de não ser recente é um livro que vem cheio de receitas deliciosas e pequenas histórias que nos levam a viajar pela linda cidade de Veneza, em Itália. Sou fã da gastronomia italiana e esta é uma das cidades que um dia adorava visitar.
Curiosamente, a última receita do livro foi aquela que me despertou de imediato a atenção, uma focaccia doce. Mais do que o aspecto visual da receita, também o nome me deixou curioso. Quando falamos em focaccia estamos habituados a um pão achatado, feito com farinha, azeite e sal. Mas segundo Tessa, "Esta receita tem pouco em comum com o pão chamado foccaccia, sendo mais uma espécie de brioche-pandoro. Provei uma focaccia na pasticceria Puppa in Cannareggio e senti de imediato uma atracção irresistível, pelo que tentei encontrar uma receita de focaccia no velho livro de cozinha da minha cunhada A Tola co I Nostri Veci, de Mariù Salvatori de Zuliani (...)". Ou seja, esta focaccia é mais parecida com as tradicionais fogaças que existem em várias versões, espalhadas pelo país, do que propriamente com o típico pão focaccia italiano. Sendo eu fã de massas lêvedas e doces, não poderia deixar de ficar surpreendido com a leveza desta massa, resultado da sua levedação longa, que perfumada pelo aroma da raspa do limão, torna este pão doce excepcional. No fundo é como uma massa de brioche mas em bom, que sabe ainda melhor se saboreada com compota ou manteiga. Se puderem não deixem de experimentar esta receita, pois tenho a certeza que não irão sobrar migalhas para contar a história.
Focaccia Veneziana
(receita adaptada do livro "Veneza - Petiscos" de Tessa Kiros)
Ingredientes:
| 20 g de fermento fresco
| 250 ml de leite quente
| 125 g de açúcar (usei amarelo)
| 100 g de manteiga s/ sal, derretida e arrefecida
| 3 gemas de ovo
| 400 g de farinha s/ fermento
| 1 pitada de sal
| raspas finas de 1 limão pequeno
{para a cobertura}
| 80 g de açúcar
| 2 c. (sopa) de acúcar pérola
Notas:
- Esta focaccia/brioche deverá ser preparada de véspera e fica a levedar durante a noite.
- A cobertura de xarope de açúcar poderá ser opcional. Eu optei por pincelar a focaccia com Mapple Syrup (também pode ser usado xarope de Agáve ou mel) e polvilhei com açúcar pérola.
- A massa deverá ficar macia e bastante húmida. Não caia na tentação de adicionar mais farinha. Quando transferir a massa para a forma, aí sim, pode polvilhar ligeiramente a massa com farinha, de forma a não pegar às mãos.
Preparação:
1 . Dissolva o fermento no leite e bata leve e rapidamente. Adicione o açúcar, a manteiga, as gemas de ovo, a farinha e o sal, misturando no final com as mãos ou com a batedeira, até obter uma massa macia. Tape com película aderente, depois com um pano e deixe repousar durante 12 horas num local quente, até levedar totalmente (eu aqueci o forno a 50ºC, desliguei e deixei a massa lá dentro durante a noite). Destape e misture de novo com as mãos, envolvendo as raspas de limão.
2 . Unte com manteiga e polvilhe com farinha uma forma de buraco com capacidade de 2,25 litros.
3 . Coloque a massa uniformemente na forma (poderá parecer-lhe que sobra muito espaço, mas a focaccia acabará por aumentar de tamanho) e deixe repousar num local quente durante mais 2 horas.
4 . Pré-aqueça o forno a 180ºC. Coloque a forma no forno e deixe cozer durante cerca de 40 minutos, até o bolo ficar dourado na parte superior, cobrindo a forma com papel de alumínio durante os últimos 15 minutos.
5 . Prepare o xarope de açúcar. Deite o açúcar num pequeno tacho com 3 c. (sopa) de água e mexa bem para que se dissolva. Deixe cozinhar em lume brando, sem mexer, durante 5-8 minutos, até se tornar um pouco mais espesso. Deixe arrefecer alguns minutos e depois espalhe com um pincel sobre a focaccia fria. Espalhe o açúcar pérola sobre a focaccia.
Muito interessante, foge de todo conceito que tenho para focaccia. Como adoro massas levedadas e doces, levo a receita pra provar. Faço uso de fermento natural, acredito que resultará muito bem.
ResponderEliminarAbraços