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Pudim de Azeite e Mel


Já cheira a Natal cá em casa e aos poucos o espírito natalício vai-se instalando, quer seja através de uma música que passa numa publicidade, que fica no ouvido e vou cantarolando, quer seja nas decorações que se vão espalhando pela casa ou nas receitas que vou experimentando para oferecer, que deixam no ar o perfume da canela e do gengibre, sabores muito apreciados por aqui e que sempre associo a esta quadra. É o que mais gosto de fazer por esta altura, estar fechado na minha cozinha, rodeado de tachos, panelas, formas, cortantes e tabuleiros, sentir o aroma das especiarias e sobretudo experimentar e reinventar receitas de Natal. Tirando o tradicional bolo rei e o arroz doce com muita canela - que posso comer em qualquer altura do ano e que me sabe sempre a pouco - não sou muito apreciador dos sonhos ou das rabanadas. Aliás tudo o que é frito e leva açúcar não me convence de todo, posso comer um ou dois sonhos e dou-me por satisfeito. Agora, quando falamos em rabanadas ou azevias no forno, num pudim de pão e frutos secos, aletria, broinhas de abóbora ou no tradicional pão-de-ló, aí sim, os meus sentidos despertam, fico convencido e pode ser Natal todos os dias.


Quem me conhece sabe que não sou muito apreciador desta quadra. Natal é sinónimo de família, de partilha de afectos e emoções, de sorrisos, de dar e receber. Longe vão os anos em que na noite da consoada conseguíamos ter toda a família reunida, todos sentados à volta da mesa, uma mesa cheia de comida e a casa a cheirar a sonhos de abóbora que estiveram a levedar durante quase um dia inteiro e que a minha mãe acabara de fritar. As broas de frutos secos que eram  cozidas no forno de lenha e cujo sabor nunca esquecerei. O ritual de passar os sonhos ainda quentes pelo açúcar misturado com canela. Infelizmente e por motivos de força maior, já não consigo ter toda a família junta e o Natal deixou de ter o mesmo significado. 

Mas este ano será diferente. Estarei junto dos meus queridos irmãos, dos meus sobrinhos adorados e também do meu pai. E talvez porque as saudades apertam, sinto uma certa ansiedade e conto os dias para que chegue o Natal, para estarmos todos juntos, confortavelmente sentados à lareira a conversar e quem sabe a relembrar os velhos tempos, a matar saudades e a degustar o tradicional bacalhau cozido, servido com batatas e as couves frescas da horta do meu pai, tudo regado com muito azeite. 

Sempre gostei de azeite e tive o privilégio de em pequeno poder assistir ao seu processo de transformação, desde o fruto, a azeitona, que era colhido das oliveiras do meu avô de forma tradicional, até à hora em que saía aquele líquido dourado escuro por uma pequena bica no lagar. Ainda no terreno, eram estendidos plásticos e panais e amontoavam-se cestos e baldes e cada um empunhava uma longa vara com a qual chicoteava as oliveiras fazendo com que as azeitonas caíssem. Todas eram aproveitadas, mesmo as que caíam fora do pano ou as que se escondiam por entre as ervas. Já no lagar o meu avô aguardava pela sua vez de poder colocar os quilos de azeitona numa prensa, também ela manual, onde a azeitona era espremida para dar depois origem a essa gordura deliciosa que é o azeite. Ainda no lagar, era dado a provar o azeite acabado de sair, em pequenos pedaços de pão caseiro. O que eu adorava aquele ritual!


A convite da Oliveira da Serra, tive o prazer de poder visitar no mês passado o Lagar do Marmelo, em Ferreira do Alentejo. Situado num cenário paisagístico que convida e encanta todos os que por lá passam, este lagar com a assinatura do arquiteto Ricardo Bak Gordon, é uma obra equipada com a mais recente tecnologia no que à produção de azeite diz respeito. Ali, são produzidos e selecionados os melhores azeites do mundo, obtidos a partir das cerca de 10 000 000 de oliveiras espalhadas por hectares a perder de vista. O lagar pode ser visitado por qualquer pessoa e ali podem ser provados alguns dos azeites mais premiados do mundo, sempre acompanhados do melhor pão alentejano. Nesta visita tive o privilégio de, em conjunto com outros bloggers, podermos degustar o azeite Oliveira da Serra 1ª Colheita 2015-2016. Um azeite de sabor único que é extraído das primeiras azeitonas ainda verdes. Fresco e especial, bastante intenso em aroma e com um equilíbrio perfeito entre o frutado, o amargo e o picante.

Neste evento estiveram ainda presentes alguns chefes portugueses bem conceituados, entre os quais o chef Vítor Sobral que fez as honras da casa e nos serviu um excelente almoço. O que mais me marcou e despertou o meu paladar foi um delicioso pudim de azeite e mel que foi servido na sobremesa. Não era a primeira vez que provava aquele pudim, já antes o tinha comido na Cervejaria da Esquina e na altura ficou o desejo de o fazer cá em casa. Desta vez foi servido com azeitonas confitadas  e zest de limão, algo que se tornou bastante interessante, tanto em sabor como em textura. Não é daquelas receitas que se possam comer todos os dias, devido ao elevado teor calórico, mas é uma receita perfeita para uma ocasião especial e para partilhar com aqueles que mais gostamos. Não descansei enquanto não fiz este pudim que me conquistou desde o início. Não acompanhei com as azeitonas confitadas, dei-lhe antes um ar natalício, optei antes por usar frutos vermelhos, e a combinação da acidez destes frutos com o sabor doce do pudim fazem desta uma sobremesa muito feliz. Tanto que irei repeti-la e apresentá-la na noite da consoada, na certeza de que será um sucesso.


Pudim de Azeite e Mel
(receita do Chef Vitor Sobral)

Ingredientes:
| 8 ovos
| 500g  de açúcar (usei açúcar amarelo)
| 1 c. (sopa) de raspa de laranja
| 1 c. (sopa) de raspa de limão
| 100 g de mel
| 0,5 dl de azeite virgem extra Oliveira da Serra (usei 1ª Colheita 2015/2016)
| frutos vermelhos q.b. (usei groselhas e framboesas)

Preparação Tradicional: 
Pré-aqueça o forno a 180ºC.
Unte com manteiga e polvilhe com farinha uma forma de bolo inglês e reserve.
Numa taça coloque os ovos e o açúcar e incorpore com as mãos de forma a que o açúcar se desfaça por completo (em alternativa use a batedeira e uma vara de arames e bata a uma velocidade baixa).
Junte as raspas de laranja e limão, o mel e o azeite e misture até todos os ingredientes ficarem bem ligados.
Verta o preparado na forma e leve ao forno cerca de 45 a 50 minutos.
Retire do forno e deixe arrefecer dentro da forma.
Desenforme e decore a gosto com frutos vermelhos.

Preparação Thermomix - Bimby:
Pré-aqueça o forno a 180ºC.
Unte com manteiga e polvilhe com farinha uma forma de bolo inglês e reserve.
Coloque no copo os ovos e o açúcar e programe (30seg/vel3).
Junte as raspas de laranja e limão, o mel e o azeite e programe (20seg/vel3).
Verta o preparado na forma e leve ao forno cerca de 45 a 50 minutos.
Retire do forno e deixe arrefecer dentro da forma.
Desenforme e decore a gosto com frutos vermelhos.

28 comentários:

  1. Que lindo pudim Célio! Por aqui também o Natal vai-se instalando pouco a pouco, embora eu ande com pouca vontade. O pequeno anda a insistir para fazer a árvore, mas ainda não foi este fim-de-semana.... O teu pudim cheira mesmo a Natal, ficou com um aspecto delicioso! Bjinhos

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    1. Obrigado Rute! :)
      Por aqui o Natal vai chegando devagarinho, mas confesso que a melhor parte é mesmo a das receitas que adoro. O resto passa-me um pouco ao lado.
      Um beijinho.

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  2. Agrada-me a receita. E quem não tem bimby,como faz?

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    1. Olá Ofélia!
      A preparação da receita está nos dois métodos, Tradicional e Bimby. :)
      Obrigado e um beijinho.

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  3. Um pudim com ar natalicio que deve ser uma delicia? As fotos estão perfeitas! Beijinhos

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    1. É mesmo uma delícia e perfeito para qualquer mesa de Natal. :)
      Obrigado e um beijinho.

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  4. Essa ansiedade pelo dia de Natal é tão boa, Célio... é assim um reviver de memórias, mesmo que seja com outras pessoas, porque as famílias vão mudando. Percebo-te tão bem, amigo. Eu acho que vou "ter" de incluir este pudim na mesa de Natal deste ano... adoro estes sabores tradicionais, o mel e azeite fazem um contraste maravilhoso! Está lindo, claro, mas isso é como tudo o que fazes, não é verdade? ;)
    Beijo grande!

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  5. Que pudim maravilhoso, no restaurante onde trabalhei uma das receitas principais da carta era pudim de azeite e mel com um rolinho de alfarroba e compota de citrinos... ficava assim com a mesma cor mas era cozinho em formar individuais rectangulares, esta maravilha que nos trouxeste fez-me lembrar bons momentos ;)

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  6. Que pudim fantástico!
    Beijinhos,
    Espero por ti em:
    http://strawberrycandymoreira.blogspot.pt/
    www.facebook.com/omeurefugioculinario

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  7. Célio,
    Que pudim magnífico e imagino o delicioso que é.
    Fiquei a babar e vai já para a minha lista dos "a testar" rapidamente!!
    As fotos, como sempre, magníficas e quando for grande, quero fotografar assim como tu :))).
    Adoro o Natal e as luzinhas e as cores e a azáfama, mas nem sempre foi assim, pois nunca fui muito fã desta época, facto que mudou completamente quando tive o meu filho e agora adoro, pois com crianças, o natal é sempre mais alegre e lindo!
    Um beijinho,
    Lia

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  8. Olá Célio!
    Que doce tentação! É verdade, o Natal lá em casa já não é o mesmo...queremos sempre a presença física de quem já não pode estar connosco mas sei que estão sempre no nosso coração e através de nós. Tento sempre que seja mais um com bons momentos partilhados pelos presentes. Eu adoro esta época e adoro a azáfama da cozinha, os cheiros que enchem a casa, as decorações que preenchem os espaços, a casa com a família :)
    Célio, este Natal teremos mais uma novidade na mesa, o teu doce!
    Beijinhos e obrigado pela partilha.

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  9. Este pudim é perfeito Célio,
    fiquei com uma gula enorme de comer um pedacinho e quem sabe fazer para a noite de natal.
    O espírito de natal aqui nunca é muito grande, talvez por já ter perdido aquela graça da infância e neste momento não termos crianças pequenas na família e pelo bombardear das coisas e das imagens na televisão e nas grandes superfícies. De qualquer forma, as coisas boas da época estão sempre presentes, e mesmo que a mesa não esteja completa há sempre amor e coisas doces. E adoro enrolar os filhoses da minha avó no açúcar e canela, somos uma equipa no frita e enrola :) e o arroz doce quentinho e cheio de canela que não falta certamente. Imagino que este teu natal vá ser mesmo bom e cheio!
    Um beijinho.

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  10. Belas fotografias e belíssimo pudim, com certeza. Cá por casa, ainda não há amostras de doces natalícios. Estou a pensar fazer um pão-de-ló, para começar as "hostilidades". Vai ser um mês cheio de calorias, nada que não se resolva em janeiro :)

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  11. que fatia tão dourada ... que linda ... ainda tenho umas groselhas no congelador :D
    e acho que estão a chamar por mim nesta combinação :D
    hummm
    parabéns pela apresentação e obrigada pela partilha :)
    bjs
    Carla
    http://cromasdacozinha.blogspot.pt/

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  12. Agora que temos uma pequenina (sobrinha) o natal tem outro sabor. Mas é bom partilhar os momentos com os que estão cá e relembrando as coisas boas dos que já partiram. Porque o natal tem espaço para todos ❤️

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  13. Ficou lindo, perfeito para a mesa de natal :) beijinho

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  14. Lindo, lindo... Ficou fantástico. Já comia um pedacinho, tem um ar mesmo apetitoso.

    Tânia Tiago
    Bimby & Sabores da Vida

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  15. Olá Célio

    Esse pudim ficou com um aspecto divinal.
    Adorava poder comer uma fatia desse pudim.

    Beijinhos,
    Clarinha
    http://receitasetruquesdaclarinha.blogspot.pt/2015/12/pizza-vulcano.html

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  16. Fiquei a salivar Célio, que perdição!!! Vou copiar-te integralmente e ter um pudim assim para a minha consoada... e claro, impressionar a familia ;)
    Beijinhos grandes

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  17. Célio, assim que vi este teu pudim, imaginei-o logo como capa de uma revista, está tão mas tão lindo... o ambiente acolhedor, apetece tanto meter a colher nas fotos... e logo eu que adoro pudim, até parece que lhe sinto o sabor.
    SUBLIME!
    Bjinhos

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  18. Não sou a maior fã de doces de Natal, mas adoooro pudins! E esse parece bem denso e delicioso :D Tenho de experimentar...
    O ritual do azeite devia ser mesmo giro :)

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  19. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  20. Este ano ano resistimos a esta iguaria, na noite de Natal.
    Estava simplesmente maravilhoso.
    Vou levar a receita e para fazer brevemente.
    Um abraço e Bom ano de 2016

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  21. Olá Célio. Antes de mais, parabéns por este excelente blog. Faz as delícias cá de casa ;) Este fim de semana decidi experimentar fazer este pudim por duas vezes. Das duas vezes pegou à forma. A minha questão é: existe alguma maneira dele não pegar? Untei a forma com manteiga e polvilhei com farinha, como diz para fazer, no entanto pega sempre à base :( Estou a usar uma forma de silicone. Terá alguma coisa a ver? Obrigada e continuação de um excelente trabalho!

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    1. Olá Sara!
      Antes de mais muito obrigado pelas palavras simpáticas. :)
      Eu não gosto de usar formas de silicone e sim, talvez possa ser esse o problema de ele pegar no fundo. A base está sempre em contacto com o calor e sendo de silicone, vai cozer mais depressa. A solução é mesmo untar abundantemente a forma com manteiga e polvilhar com farinha. Ao desenformar, passe com uma faca em toda a volta para ele descolar das paredes da forma e se não desenformar, coloque a forma de molho durante um ou dois minutos em água morna. Assim irá resultar. Mas aconselho mesmo a usar uma forma sem ser de silicone e de preferência anti aderente. Qualquer loja de chinês tem à venda. :)
      Um beijinho

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    2. Obrigada pela rapidez na resposta! Já comprei uma forma nova que vou agora mesmo experimentar ;) Depois dou feedback. Mais uma vez obrigada. Beijinhos!

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    3. Olá Célio! Usar uma forma nova, sem ser de silicone, resultou maravilhosamente. Agora já consigo desenformar o pudim sem problemas nenhuns :) No entanto deparei-me com outro problema. O pudim cresce imenso e a parte que cresce fora da forma acaba por queimar um pouco. Já o cozi com uma temperatura mais baixa, já coloquei prata por cima mas nada resultou. Consegue ajudar-me? Lamento estar a ser tão chata mas é que adorei mesmo o pudim e queria conseguir confeccioná-lo na perfeição! Obrigada, beijinhos!

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    4. Olá Sara! Fico feliz por não ter desistido da receita e ir tentando. A persistência por vezes compensa. :)
      Sara, é normal o pudim crescer, assim como também é normal ele ficar tostadinho (e não queimado) na parte de cima, ele vai criar uma crosta que, ao desenformar,ficará na parte de baixo. Se já tentou com papel prata e não resultou então só vejo mais uma solução, não coloque na forma toda a quantidade de pudim, assim a forma fica com menor quantidade, ele já não cresce tanto para fora da forma e irá queimar menos. Outra coisa que deverá ter em atenção, se o seu forno for ventilado, desligue essa função, pois a ventilação do forno deverá acelerar a cozedura do pudim, acabando por queimá-lo. Coloque também o pudim na parte mais baixa do forno, isso poderá ajudar.
      Sara, obrigado e qualquer coisa estarei ao dispor.
      Beijinho.

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