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Pudins de Bolo Rei


Cá em casa paira no ar o cheiro das especiarias. Com um ambiente sonoro entoando músicas de Natal, preparam-se as últimas compotas, as bolachas e outros presentes caseiros. Embrulham-se os últimos presentes e preparam-se as listas de compras com os ingredientes necessários para fazer as entradas e as sobremesas. Mas essas ficarão para o fim de semana. O importante agora é pensar em juntar a família em volta de uma mesa cheia de boa comida, na qual não pode faltar o tradicional bacalhau, as rabanadas, os sonhos e o bolo rei. A estes juntam-se ainda outras sobremesas que certamente farão as delícias de todos os presentes. Há para todos os gostos e em grande quantidades. Sim, acaba por ser um exagero, mas esta é uma época especial e depois temos pela frente mais doze meses para compensar  todos estes exageros. O importante é a partilha de refeições deliciosas, a criação de boas memórias  e o tempo de qualidade que passamos junto daqueles que mais gostamos.


Com tanta comida na mesa de Natal, o mais certo é acabarmos por andar a comer sobras até ao final do ano. Partilhar as sobras entre todos é uma opção para não desperdiçar comida. Por outro lado, podemos puxar pela criatividade e reinventar algumas refeições. Foi o que procurei fazer com a partilha desta receita que não é mais que uma adaptação do tradicional pudim inglês "Bread Pudding", mas aqui feito com as sobras do nosso Bolo Rei. A esta receita juntei ainda alguns frutos secos e aromatizei com canela, baunilha e raspa de limão. Fica uma sobremesa simples e deliciosa que pode ser servida ainda morna, acompanhada de uma bola de gelado ou então pode ser comida simples, ao lanche ou ao pequeno almoço.

Preparei esta receita, a última que partilho antes do Natal, em colaboração com o site Alegro, para acompanhar o artigo mensal intitulado "Sugestões Para Aproveitar as Sobras do Natal". Neste artigo, que podem ler mais abaixo, ou na íntegra aqui, dou alguns exemplos de como aproveitar as sobras de alguns dos pratos mais consumidos nesta época festiva, reinventando-as e transformando-as em deliciosas refeições. Esta receita é apenas um exemplo, mas também o bacalhau, os legumes ou o polvo podem ser reaproveitados. 

A todos os que por aqui passam, os meus sinceros votos de um Feliz e santo Natal, onde reine a Paz, o Amor e a Saúde em abundância. Sejam felizes!


(artigo mensal escrito em colaboração com o site Alegro)

Sugestões Para Aproveitar as Sobras do Natal!

No Natal tudo o que mais queremos é juntar a família e os amigos em volta de uma mesa farta, onde não podem faltar os pratos mais tradicionais, aquela receita que só a tia sabe fazer ou a sobremesa especial cuja receita é de família e vai passando de geração em geração. Conversas demoradas, sorrisos  partilhados e a criação de memórias, sempre com a comida como pano de fundo, assim são as refeições nesta que é a quadra mais festiva do ano.

Com tanta comida é inevitável não haver sobras no dia seguinte. Desperdiçar está fora de questão, por isso nada melhor que planear as refeições detalhadamente e com antecedência. Ainda assim vai sobrar comida. Uma das formas de se ver livre desses excessos, sem haver desperdício, é partilhar as sobras com os convidados. Por outro lado, com um pouco de imaginação e criatividade é possível reaproveitar essas sobras, combinando-as com outros ingredientes e assim preparar deliciosas refeições. Veja alguns exemplos:

Bacalhau:
É dos pratos mais tradicionais na ceia de Natal. O mais comum é o bacalhau cozido com couves e azeite. Não se tratando de um prato consensual, é comum haver sobras. Utilize-as, assim como as batatas e as couves do acompanhamento e faça a tão conhecida roupa-velha. Mas também pode optar por usar apenas as batatas, juntando-as ao bacalhau e assim fazer um empadão ou, porque não, umas deliciosas pataniscas. 

Carnes e Enchidos:
Em algumas regiões do país é comum haver peru assado. Se sobrar, pode sempre usar para fazer umas empadas, uns croquetes ou mesmo uma bôla de carnes e enchidos.

Legumes:
Existem sempre imensos legumes em grandes quantidades a acompanhar o bacalhau cozido. A couve costuma sobrar, mas também as cenouras, os nabos e as batatas. Junte-os numa panela, tempere a gosto e faça uma reconfortante sopa (...)

(leiam o artigo completo aqui)


Pudins de Bolo Rei
Ingredientes:
| 300 g de sobras de Bolo Rei
| manteiga q.b.
| 3 c. (sopa) de amêndoa triturada
| 1 mão cheia de nozes pecan                     
| 3 ovos
| 3 c. (sopa) de açúcar amarelo
| 1 c. (café) de pasta de baunilha
| canela q.b.
| raspa de 1 limão
| 250 ml de leite
| 1 c. (sopa) de vinho do Porto
| açúcar mascavado

Preparação:
1 . Pré-aqueça o forno a 180ºC. Unte com manteiga 4 ramequins ou, em alternativa use uma forma pequena de bolo inglês.

2 . Corte o bolo rei em fatias finas ou parta em pedaços e distribua pelos ramequins.

3 . Sobre o bolo rei coloque a amêndoa e as nozes pecan.

4 . À parte, bata os ovos juntamente com o açúcar, a baunilha, a canela e a raspa de limão. Adicione o leite e o vinho do Porto e bata mais um pouco.

5 . Verta o preparado anterior sobre o bolo rei e salpique com açúcar mascavado.

6 . Leve ao forno cerca de 20 minutos ou até ficar dourado.

Tarte "Mince Pie" com Crumble


Costumo ficar meio nostálgico nesta altura do ano. O Natal é para mim um misto de emoções, boas e menos boas. E apesar de agora já ver esta quadra com outros olhos, durante anos eu ansiava que o mês de Dezembro chegasse ao fim depressa ou que simplesmente não existisse. Faz hoje precisamente 20 anos que me despedi para sempre da pessoa mais querida que conheci em toda a minha vida, a minha mãe a pessoa que me trouxe a este mundo. Éramos muito unidos e vivemos juntos tantos momentos bons, criámos tantas memórias em volta da comida, especialmente na altura do Natal. Todos os anos íamos ao pinhal à procura do pinheiro de Natal, colhíamos o musgo para o presépio, e juntos preparávamos as broas, também conhecidas por merendeiras, que depois eram distribuídas pela família. Os sonhos de abóbora eram um clássico sempre presente. Enquanto ela os fritava eu mergulhava-os na mistura de açúcar e canela, ao mesmo tempo que me lambuzava a prová-los ainda quentes. Na consoada ela preparava sempre o bacalhau, que era regado com bastante azeite e acompanhado com as couves colhidas da nossa horta e cozidas ao lume em grandes quantidades, na panela de ferro. O forno de lenha não parava por esses dias, ora para fazer pão ora para os assados do dia de Natal. Ainda consigo sentir os aromas que se viviam naquela cozinha de lareira aberta. Pudesse eu voltar atrás, pudesse regressar no tempo e viver de novo todas aquelas memórias, sentir aqueles cheiros, ouvir o seu riso, sempre tão espontâneo e genuíno e vê-la sorrir. Não posso. A dor da perda continua cá. É uma ferida que nunca irá curar mas que o avançar do tempo ajuda a superar. Ficam as boas memórias, as boas recordações de outros natais muito felizes.


A escassos dias da noite mágica, cá em casa preparam-se os últimos presentes. Testam-se algumas receitas e fazem-se algumas compras de última hora. Os dias são pequenos demais, o tempo não quer dar tréguas, e parece não ser suficiente para tudo o que queremos fazer. Tinha algumas sugestões para partilhar aqui mas que por falta de tempo terão de continuar no papel e ficar para outra oportunidade. Os dias passam depressa e o ano está quase a chegar ao fim. É tempo de fazer uma retrospectiva, de pensar em novos desafios, de traçar novos objectivos. Mas por enquanto tenta-se viver o espírito desta que é a quadra mais festiva do ano. 

Este ano, por circunstâncias várias, não terei toda a família reunida. O importante é saber que, dentro do possível, todos estão bem. Costumamos dividir tarefas e a mim cabe-me o preparar das entradas e das sobremesas. Confesso que não sou grande apreciador das sobremesas típicas natalícias. A maioria delas são fritas e levam quantidades astronómicas de ovos e açúcar. E onde quer que vamos existem sempre os sonhos, as rabanadas ou o tradicional bolo rei. Por isso costumo sempre procurar alternativas, por norma sobremesas de outros países e culturas. Pela primeira vez aventurei-me a preparar uma Mince Pie, uma tarte de origem britânica que leva um recheio à base de maçã, frutos secos e desidratados, especiarias e rum ou brandy, o chamado "mincemeat". Já vi tantas receitas e várias versões desta tarte que a vontade de a experimentar era muita. Quando vi o "mincemeat" à venda não resisti a comprar e apesar de ser uma versão de compra, podem preparar o vosso "mincemeat" em casa. A receita escolhida foi esta versão de uma tarte única, à qual adicionei maçã e que leva uma camada crocante de crumble. Usei a massa que sobrou da base para fazer algumas estrelas que usei na decoração. Confesso que fiquei bastante surpreendido com o resultado final. Não fica uma tarte muito doce e é perfeita para acompanhar de uma bola de gelado ou natas batidas. Será para repetir, com certeza.


Tarte "Mince Pie" com Crumble 
(receita adaptada do blog Baking Martha)

Ingredientes:
{para a massa}
| 200 g de farinha s/ fermento
| 50 g de amêndoa moída
| 1/2 c. (chá) de canela
| 35 g de açúcar amarelo
| 125 g de manteiga fria, em pedaços
| 1 gema de ovo

{para o recheio}
| 411 g de Mincemeat (podem preparar o mincemeat caseiro, vejam esta receita)
| 1 maçã Reineta ralada

{para o crumble}
| 75 g de farinha
| 75 g de manteiga fria
| 50 g de açúcar amarelo

Preparação: 
1 . Comece por preparar o crumble, misturando com os dedos a farinha, a manteiga fria e o açúcar até  obter uma mistura areada e húmida. Reserve.

2 . Numa taça larga misture a farinha, a amêndoa moída, a canela e o açúcar. Adicione a manteiga em pedaços, a gema de ovo e 1-2 c. (sopa) de água. Misture e amasse até obter uma massa homogénea e moldável. Forme uma bola com a massa, envolva em película aderente e leve ao frigorífico por 30 minutos.

3 . Pré-aqueça o forno a 200ºC. 
Com o rolo, estenda a massa numa superfície enfarinhada até atingir a espessura de 0,5 cm e com o comprimento suficiente para forrar uma forma de fundo amovível com cerca de 22cm X 22cm. Pressione bem a massa contra o fundo e as laterais da forma e corte o excesso. Pique a massa com um garfo e leve a refrigerar cerca de 15 minutos (reserve a massa que sobrou).

4 . Coloque uma folha de papel vegetal sobre a massa e preencha com feijão seco ou pérolas de cerâmica (isto irá evitar que a massa crie bolhas e enfole enquanto está o forno) e leve ao forno por 15 minutos. Retire o feijão e deixe cozer por mais 8 minutos. Retire a tarte do forno e reduza a temperatura para os 180ºC.

5 . Misture o Mincemeat com a maçã ralada e distribua pela tarte. Preencha toda a superfície da tarte com o crumble reservado.

6 . Estenda a massa que sobrou, numa superfície enfarinhada e corte em pequenas porções, usando cortadores de bolachas em forma de estrela. Distribua num tabuleiro de forno forrado com papel vegetal.

7 . Leve a tarte e o tabuleiro com as bolachas ao forno. Retire as bolachas ao fim de 10-12 minutos e a tarte ao fim de 25-30 minutos ou quando a superfície começar a ficar dourada.

8 . Polvilhe as bolachas com açúcar em pó e cacau em pó e decore a tarte a gosto.

Bacalhau da Islândia Confitado com Crumble de Broa e Tomate Seco [e Puré de Batata Doce]


Estamos em contagem decrescente para o Natal! Apesar de cá em casa o espírito da quadra ainda não estar totalmente instalado (tradicionalmente a árvore de Natal só é montada no dia 1 de Dezembro) já vou pensando nas receitas que pretendo preparar para a consoada. Porque o Natal é mesmo isso, é o reunir da família e dos amigos em volta de uma mesa, é partilhar sorrisos e criar memórias, com pratos mais ou menos tradicionais. E para cumprir a tradição, na mesa de Natal tem de estar sempre presente o bacalhau. Desde pequeno que, ano após ano, o bacalhau era sempre servido na noite de Natal, cozido e acompanhado com couves. E bem regado com o "azeite novo", extraído das azeitonas que colhíamos das oliveiras do meu avô. E o que eu adorava ensopar o pão naquele azeite! Ainda hoje gosto, mas os sabores nunca serão os de outrora. O meu gosto por pratos de bacalhau tem vindo a melhorar cada vez mais e tenho imensa curiosidade em provar e experimentar receitas novas. 


Aceitei o desafio de criar uma receita para a mesa da consoada, usando o Bacalhau da Islândia. Quando falamos em Islândia falamos certamente do melhor bacalhau do mundo. É neste país de águas cristalinas que nasce um bacalhau de qualidade superior que se desenvolve num habitat perfeito graças às correntes de águas frias e quentes que criam condições de excelência para o desenvolvimento do bacalhau. Proveniente de fontes sustentáveis que asseguram a manutenção de stocks a longo prazo, o Bacalhau da Islândia é certificado em toda a cadeia, desde que é pescado até chegar à mesa dos consumidores. A base da qualidade deste bacalhau assenta na sabedoria dos pescadores que respeitam a sustentabilidade da espécie e os gostos dos consumidores.

A qualidade deste bacalhau destaca-se pela grossura dos seus generosos lombos que, depois de demolhados, permitem criar pratos mais sofisticados. A minha escolha foi para uns lombos de bacalhau confitados em azeite aromatizado com alho, louro, tomilho e pimenta da Jamaica. Acompanhei com um delicioso puré de batata doce e espinafres salteados. Para criar alguma textura, juntei um delicioso crumble de broa e tomate seco. No geral é uma receita bastante equilibrada em termos de sabor e é a opção perfeita para apresentar na mesa da consoada.


Bacalhau da Islândia Confitado com Crumble de Broa e Tomate Seco [e Puré de Batata Doce]

Ingredientes: 
| 3 lombos de Bacalhau da Islândia
| 4 dentes de alho 
| 3 folhas de louro
| 1 raminho de tomilho 
| 6 grãos de pimenta da Jamaica                    
| 600 ml de azeite virgem extra
| 100 g de broa de milho
| 20 g de tomate seco
| 100 g de espinafres
| sal 

[para o puré de batata doce]
| 400 g de batata doce laranja
| 60 ml de água
| 40 ml de leite
| 20 g de manteiga                                                                                 
| noz moscada
| pimenta
| sal

Preparação: 
1 . Pré-aqueça o forno a 100ºC

2 . Disponha os lombos de Bacalhau da Islândia num tabuleiro tipo pyrex. Distribua os dentes de alho, o louro, o tomilho e a pimenta da Jamaica.

3 . Regue generosamente o Bacalhau da Islândia com o azeite até que os lombos fiquem mergulhados até metade.

4 . Leve ao forno durante 40-45 minutos (o tempo irá depender da altura dos lombos). O azeite não deverá ferver e o bacalhau deverá assar lentamente.

5 . Para o puré, leve um tacho ao lume com a batata doce cortada em cubinhos. Cubra a batata com a água e o leite, tape o tacho e deixe cozinhar durante cerca de 20 minutos.

6 . Junte a manteiga e tempere com noz moscada, sal e pimenta. Triture até obter um puré liso e macio.

7 . Prepare o crumble, triturando a broa de milho juntamente com o tomate seco. Disponha num tabuleiro e leve ao forno pré-aquecido a 190ºC durante 8 minutos.

8 . Leve uma frigideira ao lume com um fio de azeite. Junte os espinafres, tempere com sal e salteie.

9 . Para servir, disponha o puré de batata num prato, junte os espinafres salteados e o lombo de Bacalhau da Islândia. Regue com azeite e cubra a superfície do lombo com o crumble.